terça-feira, 22 de novembro de 2016

Verdade E Mentira No Sentido Extramoral

Verdade e mentira no sentido extramoral: é uma analise de Nietzsche sobre a função que desenvolve o intelecto no conjunto do mundo e se considera a mentira e a verdade à margem da moral, não como algo bom ou mau.

Parte-se de uma postura da afirmação da vida desde um ponto de vista individual com as percepções, intuições e perspetivas da cada um. Considera-se à linguagem, ao conceito e à ciência como impedimentos para estabelecer ao homem o contato direto com a realidade. O homem tem que amar a vida, e por tanto fugir de todo o que a destrua.

O problema do conhecimento ou intelecto:

É fruto da mentira do homem, porque cheia de vaidade a quem põe-no em exercício, embora o homem usa-o para poder viver e manter no mundo. Nietzsche espera que em algum dia acabe e que quando chegue esse momento ninguém se lembre do que ocorreu antes. Compara com um filósofo a utilização do conhecimento e afirma que se orgulha se “os olhos do universo estão dirigidos telescópicamente a suas obras e a seus pensamentos”. Segundo o autor, o intelecto é utilizado para que faça mais llevadera a existência, isto é, estar ao serviço da vontade de viver inclusive utilizando mentiras...

Também afirma que o intelecto não serve para conhecer a verdadeira realidade das coisas “Enquanto o homem, guiado por conceitos e abstrações unicamente com estas ações previne a desgraça, mas não obtém a felicidade”.

Em conclusão o conhecimento para o homem é um impedimento porque pára Nietzsche o homem tem que estar guiado pela intuição sem mais complicações que a de viver a vida tal e como é.

Pensamento de Nietzsche:

A filosofia de Nietzsche oculta-se por trás de uma linguagem cheia de imagens, de brocardos, sem uma sequência progressiva de idéias. Ao longo dos períodos há um núcleo comum: a recuperação da vida como valor essencial e o investimento dos falsos valores que a afogam. Período romântico. Filosofia da noite: centrado no estudo do pensamento grego, está marcado por Schopenhauer e Wagner. Destacam idéias como: 1. no fenômeno do trágico descobre-se a verdadeira natureza da realidade; 2. corresponde à arte e à tragédia conhecer a essência trágica do mundo; 3. a vida é uma antítese entre o infinito e o finito (contraposição entre o apolíneo e o dionisiaco); 4. Sócrates encarna a oposição à visão trágica do mundo, representando o domínio da razão, em frente ao trágico da vida. Período positivista. Filosofia da manhã: predomina a influência de Voltaire e dos ilustrados franceses. Nietzsche aceita a rejeição positivista da religião e a metafísica, substituídos pela ciência. Rasgos principais: 1. o uso do método histórico para criticar os supostos metafísicos no desenvolvimento do conhecimento; 2. a crítica da cultura ocidental desvela que a moral e a religião são formas que o homem colocou sobre si mesmo e que lhe esclavizan fazendo com que se esqueça do humano. Período da mensagem de Zaratustra. Filosofia do meio dia: nele se formulam suas idéias principais. Em Assim “falou Zaratustra” há: 1. um prólogo que descreve ao super-homem e ao último homem; 2. a 1ª parte propõe a morte de deus; 3. a 2ª a idéia da vontade de poder; 4. e a 3ª a idéia da eterna volta. Período crítico. Filosofia do entardecer: idéias: 1. é preciso destruir ao último homem, para que surja o super-homem; 2. para eles é necessária a destruição da filosofia, a religião e a moral da tradição ocidental; 3. por trás de todos os valores está a vida como seu fundamento último. A idéia como vontade: em seu 1ª obra descobre-se a vida como natureza última de toda realidade. A vida é o que se ama mais profundamente, mas também o que não pode ser definido. Seguindo a Schopenhauer considera que a vida é vontade de poder, força criadora. Para Schopenhauer é a consciência a que nos descobre a dor de viver; na arte o homem cria um mundo aparente de beleza no que a vontade de viver se esquece da luta pela existência. Através da vida ascética o homem renuncia a todos seus desejos evitando assim a dor da decepção. Nietzsche, pelo contrário, exalta a vida buscando libertar da opressão da cultura. Mas é também um jogo trágico no que se enfrentam vida e morte. Sua filosofia é vitalista na medida em que proclama a alegria de viver, mas aceitar a vida é assumir em seu caráter trágico. Filología e filosofia: como a vida é ininteligible em si mesma se propõe analisar as expressões linguísticas como símbolos depois dos quais se oculta o inconsciente, o não comunicable, a realidade vital. A linguagem como sintoma da vida: a linguagem converte-se no ponto de partida da reflexão filosófica. A linguagem condiciona nossa maneira de pensar, sentir e viver. Não pode expressar as coisas, senão nosso relacionamento com elas, depende por tanto de nossa vontade. Arte e realidade: o apolíneo e o dionisiaco: a arte e a poesia são o médio através do qual aprendehemos a essência originária e profunda do mundo. A cultura grega assumia o caráter inexplicable e trágico da vida humana, mas entregava-se a uma transformação do mundo e a vida através da arte. O espírito dionisiaco representa a desmesura, a embriaguez mística e a anulação da consciência pessoal, a vida que se transborda rompendo as barreiras e limitações; o espírito apolíneo representa a razão, a medida, o equilíbrio e a individualidad. A luta entre ambos representa um “jogo trágico”. Evolução da tragédia grega: expressa a antítese entre o infinito e o ser finito. A grandeza desta tragédia é haver captado a síntese criadora das duas forças. Sófocles e Esquilo são a culminação da arte trágica, e Sócrates o começo da decadência do espírito grego presente aos filósofos presocráticos. Na filosofia socrática rompe-se o equilíbrio entra as forças. Sobre esta separação levanta-se a cultura ocidental: a filosofia, a religião e a moral. Nietzsche chama a esta perda do sentido da vida nihilismo, que é um veneno mortal para a humanidade que exalta a debilidade humana e entroniza o falhanço do homem. Crítica à filosofia: a identificação entre a razão, virtude e felicidade oculta a rejeição aos sentidos. Nietzsche quer desenmascarar este idealismo e demonstrar que só o devir é. Não há um mundo real diferente do que experimentamos pelos sentidos. O triunfo é o domínio da consciência em frente à intuição. No entanto, o sujeito não é identidade, senão pluralidade e máscara. A forma básica do conhecimento é a intuição mediante a que captamos, a vida. Esta confusão entre o último e o 1º faz da metafísica um mundo vazio. Crítica aos conceitos metafísicos: a ficção da metafísica monoteísta apoia-se na linguagem, já que fabrica as coisas, inventa-as. Faz-nos/Fá-nos abandonar a mudança e empurra-nos à permanência. Não existe um conjunto de conceitos universais para aprendeher a realidade, os conceitos não estão antes que as palavras, senão que derivam delas. As palavras são metáforas que expressam não as coisas, senão as intuições originárias que temos das coisas. Quando as palavras se transformam em conceitos, se abandonam as diferenças individuais para servir de instrumento de comunicação. 2º falseamiento: se a palavra falsea a intuição, o conceito falsea a palavra. O erro da filosofia é ter-se esquecido das intuições como a origem dos conceitos e aceitar que os conceitos são os que designa a realidade. Esse esquecimento é o fundamento da metafísica, que considera o abstrato como real e verdadeiro. Todo conhecimento é relativo, é perspectivismo. Crítica à ciência: sua crítica dirige-se contra o mecanicismo das ciências positivas. A ciência matematiza a realidade, mas é incapaz de conhecer a singularidade da cada uma. Crítica à moral cristã: desenvolve sua crítica em duas obras: “Para além do bem e do mau”, “Genealogia da moral”. Sua análise situa-se descobrindo os instintos desde os que brotam os conceitos morais a partir de sua genealogia. O método genealógico estuda como surgiram os conceitos morais e como se impuseram como valores aceitados a partir da força do grupo social que os propõe. Em um momento em que as circunstâncias históricas distinguem entre povos dominadores e dominados, a virtude era equivalente à força. Produz-se o investimento dos valores. Faz uma distinção entre: 1. a moral dos senhores é a moral ativa que implanta os valores. Só os poderosos buscam sua vontade de poder acima de tudo, sem esperar uma compensação para além da vida terrenal; 2. a moral dos escravos é passiva, não cria os valores, senão que os encontra ante sim. Seus valores morais são expressão das necessidades do rebanho. Nietzsche contempla a história da cultura ocidental como um triunfo dos valorize plebeus, o triunfo da moral cristã. Esta moral deve ser recusada, pois conduz à degradação da vida humana. O judaísmo e o cristianismo completam o investimento de valores do platonismo. Nietzsche recusa esta moral que constitui uma negação da vida. Se Deus converteu-se no argumento contra a vida, a negação de Deus trará a afirmação da vida e o aparecimento de um homem superior, que abandone a moral do ressentimento e acha seus próprios valores. A morte de Deus: a morte de Deus significa uma crítica radical da religião, a moral e a metafísica sobre as que se levantou a civilização ocidental. O processo da morte de Deus tinha-se iniciado com a Renascença e continuado com a Ilustração. Nietzsche critica que o ataque ilustrado se dirigiu contra os dogmas teológicos mas manteve o mesmo sistema moral. Com a morte de Deus monoteísta acaba o dogmatismo. Começa então um ressurgimento dos antigos deuses do politeísmo. O nihilismo abre caminho a uma nova visão da realidade e do homem. Em frente ao pensamento único o perspectivismo reconhece a multipilicidad de interpretações fazendo possível a liberdade do ser humano. A morte de Deus permite que afloren as energias criadoras do homem. A vontade de poder e o super-homem: a morte de Deus precipitou ao homem ao nihilismo, na nada. A superação do nihilismo e a criação de novos valores que dêem sentido à vida precisam uma transvaloración dos antigos. Esta tarefa é própria da vontade de poder que dará local ao super-homem. Trata-se de mudar a maneira de ver para chegar a uma nova forma de sentir, devolvendo ao homem o valor de seus instintos naturais. Em Assim “falou Zaratustra” apresenta ao criador do maniqueísmo como porta-voz da morte de Deus e o profeta do super-homem. A chegada deste super-homem atravessa 3 metamorfosis do espírito: 1. o camelo simboliza aos que se contentam com obedecer cegamente; 2. o camelo transforma-se em leão que simboliza ao nihilista que recusa os valores tradicionais e cria as condições para a produção do super-homem; 3. o leão transforma-se em menino, que é capaz de atuar por instintos, sem ter em conta as consequências. Só é capaz de viver a vida como algo novo e atual, só ele poderia ser o super-homem. O super-homem dará um novo sentido à realidade encarnando a Dionisos. Renúncia aos sonhos ultramundanos e volta à Terra. Seu moral terá uma absoluta autonomia moral para além do bem e o mau. Sua liberdade situa-lhe acima de qualquer adoctrinamiento. Não crerá na igualdade, senão nas hierarquias e na inalienable diferença que existe entre os homens. A idéia do super-homem não é o anúncio de uma realidade inexorável, senão uma meta para a vontade. Zaratustra também é o profeta da eterna volta. O significado disto nos enfrenta com o problema do tempo. A doutrina da eterna volta é a tentativa suprema de absotulizar o devir como o “ser”. É um “voltar de novo a seu próprio eu para viver uma vida idêntica, em seus mais importantes e em seus mais nimios acontecimentos”. A idéia de uma cíclica volta parece contradizer a idéia do super-homem. Este aceita a vida como devir, como eterna repetição, sem criar um ser que transcenda ao universo. A idéia do eterno rertorno é a consequência da vontade de poder que aceita a vida com todas suas consequências.

Contexto histórico, sociopolítico, filosófico e cultural

A revolução industrial e as mudanças sociais que desenvolveu deram local a novas ações revolucionárias após a fracassada revolução francesa. A burguesía era a dona do mundo ocidental, embora diferenciando entre alta e pequena burguesía. O número de trabalhadores industriais tinha aumentado e com ele a resistência à ordem social imposto pelos burgueses. A história europeia do século XIX é um jogo de alianças e confrontos entre burgueses e operários, que se unem contra a monarquia para desbancarla do poder e impulsionar uma libertação econômica, mas que se enfrentam quando os artesãos exigem reformas democráticas. A 2ª metade do século XIX começa com o falhanço das revoluções de 1848, nas que confluíram os avanços do liberalismo, do nacionalismo e as lutas sociais. Ao acabar no século XIX muitos estados europeus desenvolvia constituições que consolidavam mudanças políticos democráticos. Nas primeiras décadas da 2ª metade do século XIX os avanços da industrialización acrescentaram as diferenças entre os países da Europa oriental e mediterrânea com os países industrializados. Para 1870 produziu-se a segunda revolução industrial. Os novos ramos industriais impulsionam a concentração de capitais e o aparecimento de grandes empresas, bem como o protagonismo crescente da banca. Os avanços da industrialización foram fruto de um estreito relacionamento entre o desenvolvimento científico e o tecnológico. Culturalmente, a mentalidade predominante é o positivismo. A humanidade encontra-se em seu grau máximo de desenvolvimento graças ao pensamento positivo e à ciência. O evolucionismo defendido por Darwin ofereceu uma explicação científica à consciência de mudança. A ampliação ao ser humano dos princípios evolucionistas deu local ao darwinismo social de Spencer, que legitimava a doutrina do liberalismo econômico. Na 2ª metade de século aparece um sentido individualista do destino humano (o indivíduo tem um valor absoluto à margem da sociedade interessada na riqueza ou o poder político). Freud criticou a sociedade que impunha proibições que impediam viver de um modo equilibrado e empurravam aos indivíduos à neurosis. A mentalidade positivista encontrou seu reflexo no realismo (arte). Mas também se manifesta na arte a crítica individualista à sociedade decadente. É a época das vanguardas, de um modo de vida bohemio. O impressionismo que protagonizou as últimas décadas do século pretendia ser fiel à natureza (Renoir, Monet, Degas,…). Em ciência não é alheia à consciência de crise da época. A unificação da Alemanha: Prusia e Áustria dividiam o território alemães após as guerras contra Napoleón. A unificação foi promovida por Bismarck. Em 1867 criou-se a Confederação Alemã do Norte. Aprovou-se uma Constituição que dava uma estrutura federal a esta união, presidida por Guillermo I de Prusia com Bismarck como chanceler. A vitória prusiana contra França em Sedán em 1870 destruiu ao exército de Luis Napoleón e criou o Segundo Império, que incorporou aos Estados do sul. Bismarck reunificó aos 13 estados, exceto Áustria. O mapa político europeu tinha-se modificado. Alemanha converteu-se na grande potência continental, enquanto Grã-Bretanha dedicava-se a sua expansão colonial. O rígido estado alemão formou a uma classe eficiente de servidores públicos e cidadãos honestos. A filosofia alemã da 2ª metade de século lançou-se à tarefa de salvar ao indivíduo defendendo a criatividade e a liberdade. Nem o idealismo nem o positivismo eram capazes de compreender a vida humana. Dilthey propôs a necessidade de diferenciar as ciências naturais e as ciências do espírito. Cabe destacar na filosofia alemã a Hegel, quem concebia a totalidade do real como sujeito; e a outro como Schopenhauer ou Marx.

Influências e repercussões:

As influências remontam-se ao período clássico com nomes como Homero, Heráclito, Demócrito... e os grandes trágicos gregos Esquilo, Sófocles e Eurípides. São influências indiretas de Nietzsche todos os filósofos presocráticos por sentir a vida tal e como é. Também nesse período critica a Sócrates a Platón.

Influências mais próximas são de linha idealista como Kant e projetos ilustrados que culminam em Hegel, que farão de Nietzsche um verdadeiro irracionalista.

Mas sem dúvida a influência mais direta em Nietzsche são Arthur Schopenhauer e Richard Wagner. De Schopenhauer adotará a visão do mundo como vontade de existir, a inteligência como algo dirigido pelos instintos, a desconfiança para o poder do progresso e a importância da arte como poder de descoberta da realidade. De Wagner tomará a liberdade que expressa na música em frente aos clássicos valores cristãos até que o próprio músico os abandona e Nietzsche muda sua opinião para ele.

Como repercussões do autor no século XX aparecem interpretações em diferentes âmbitos; em estética predomina Stephan George com a idéia de Dionisos como símbolo da vida. Em política valoriza-se a idéia de vontade de poder baseando na luta como o mais humano. Também surgem diversas interpretações como o nacional-socialismo e as ideologias de esquerdas mais radicais. Por último a interpretação existencialista de Karl Jaspers e Martín Heidegger:

Jaspers escreve um livro no que faz uma tentativa de compreender a Nietzsche, mas sem interpretar sua doutrina, tentando introduzir em sua visão, pelo contrário, Heidegger afirma que Nietzsche não entendeu o nihilismo que ele mesmo proclamava.

Outras repercussões misturam a Nietzsche com Kant (G. Simmel), ou com a fenomenología (Max Scheler). Habbermas, Bertrand Russel, Enfeito e outros fazem do pensamento nitzscheano uma visão sociológica. Cabe destacar em Espanha a Fernando Savater com seu livro “Cria de Nietzsche”, que acerca ao autor ao público.

O pensamento de Nietzsche deu local muitas interpretações, embora não seja sempre positivas ou aceitadas, mas não abrangeram só o terreno da filosofia senão a toda a cultura de modo geral.

Verdade E Mentira No Sentido Extramoral pdf:
imediata.org/asav/nietzsche_verdade_mentira.pdf