segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Eterno retorno

O eterno retorno é um conceito filosófico do tempo postulado, em primeira vez no ocidente, pelo

estoicismo e que propunha uma repetição do mundo no qual se extinguia para voltar a criar-se. Sob esta concepção, o mundo era retornado a sua origem através da conflagração, onde tudo ardia em fogo. Uma vez queimado, ele se reconstruía para que os mesmos atos ocorressem novamente.

Mais tarde, Friedrich Nietzsche também define esse conceito em sua obra. Eterno retorno, em alemão o termo é Ewige Wiederkunft, uma síntese dessa teoria é encontrada em A Gaia Ciência:

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

Conceituação segundo Friedrich Nietzsche
O Eterno Retorno é um conceito não acabado em vida pelo próprio Nietzsche, trabalhado em vários de seus textos (Em "Assim falou Zaratustra"; aforismo 341 de "A gaia ciência"; aforismo 56 de "Além do bem e do mal"; e trechos dos fragmentos póstumos, que podem ser encontrados no livro "Nietzsche" da coleção "Os Pensadores", da Abril Cultural). Ele mesmo considerava como seu pensamento mais profundo e amedrontador, que lhe veio à mente durante uma caminhada, ao contemplar uma formação rochosa.

Um dos aspectos do Eterno Retorno diz respeito aos ciclos repetitivos da vida: estamos sempre presos a um número limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente e se repetirão no futuro, como por exemplo, guerras, epidemias, etc.

Quando no texto, acima transcrito, de A Gaia Ciência, o filósofo sugere a aparição do demônio portador da revelação do ciclo inexorável de repetições, ele não afirmou que aquilo seria exatamente o Eterno Retorno. Nos textos de Nietzsche sobre a História, vemos que sua noção do Tempo não é cíclica.

Com o Eterno Retorno Nietzsche questiona a ordem das coisas. Indica um mundo não feito de pólos opostos e inconciliáveis, mas de faces complementares de uma mesma—múltipla, mas única—realidade. Logo, bem e mal, angústia e prazer, são instâncias complementares da realidade - instâncias que se alternam eternamente. Como a realidade não tem objetivo, ou finalidade (pois se tivesse já a teria alcançado), a alternância nunca finda. Ou seja, considerando-se o tempo infinito e as combinações de forças em conflito que formam cada instante finitas, em algum momento futuro tudo se repetirá infinitas vezes. Assim, vemos sempre os mesmos fatos retornarem indefinidamente. Além do questionamento da ordem das coisas, a consequência do conceito de eternidade de cada ato implica, sobretudo, na necessidade de um questionamento, a cada mínimo instante, sobre a validade dos atos intencionados; o código moral do indivíduo haveria, portanto, de partir de um consciente juízo sobre o querer  — "quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" — e sobre o pesar, fruto da inelutável repetição de uma eterna chancela sobre cado ato. Levanta-se, então, a moral do indivíduo pelo indivíduo, não em ode a um hedonismo, mas em reconhecimento do estado irreparável de cada segundo vivido do particular ao mundo, seja pelo prazer, pelo bem, pelo mal ou pela angústia dados ou negados a si e aos outros.


Wikipédia, a enciclopédia livre.

Eterno Retorno, o amor à vida l Nietzsche l Clóvis de Barros Filho
www.youtube.com/embed/N8x8fv37w4s