As condições que é preciso ter para me
compreender, e para me compreender
com necessidade – com
demasiada
precisão as conheço. É preciso ter uma
retidão nas coisas de espírito vizinha
da dureza, e isso apenas para suportar
a minha gravidade, a minha paixão.
É preciso ter a prática de viver sobre
as montanhas – de ver abaixo de si a
atualidade, lamentável e tagarelante, da
política e da raiva egocêntrica dos povos.
É preciso ter-se tornado indiferente, é
preciso nunca perguntar se a verdade
serve, se pode tornar-se fatal... Uma
predileção da força pelas questões que
hoje ninguém tem a coragem do que é
proibido; a predestinação do labirinto. A
experiência das sete solidões. Ouvidos
novos para uma nova música. Olhos para
o mais longínquo. Uma consciência nova
para verdades mudas até o dia de hoje. E uma vontade de economia de grande estilo:
o estourar da força, do entusiasmo...
o respeito para consigo, o amor por si;
liberdade absoluta consigo próprio[...].
(NIETZSCHE, 1888, p. 7-8).
O fragmento transcrito acima, além de
introduzir o tema, possibilita uma impressão
inicial da filosofia nietzschiana e das imbrica-
ções que possivelmente ela teve na realidade
das décadas de 1930 e 1940. A pergunta
que se impõe ao leitor sério das obras de
Nietzsche é como os pensadores do século
XX e início do século XXI compreendem
a filosofia de Friedrich Nietzsche? Quais as
imbricações do terror da Segunda Guerra
Mundial na visão da atualidade sobre o pensamento
nietzschiano? Talvez essas sejam
duas perguntas imprescindíveis para analisar
a filosofia de Nietzsche e suas possibilidades
de interpretação. O que se observa por parte
de pensadores é a não imparcialidade frente
ao tema, afinal como Ansell-Pearson (1997)
sugere, é impossível ficar indiferente à obra.
Perspectiva, Erechim. v.34, n.128, p. 53-63, dezembro/2010
www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/128_137.pdf