sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A recepção da filosofia Nietzschiana pelo pensamento nazista

As condições que é preciso ter para me compreender, e para me compreender com necessidade – com
demasiada precisão as conheço. É preciso ter uma retidão nas coisas de espírito vizinha da dureza, e isso apenas para suportar a minha gravidade, a minha paixão. É preciso ter a prática de viver sobre as montanhas – de ver abaixo de si a atualidade, lamentável e tagarelante, da política e da raiva egocêntrica dos povos. É preciso ter-se tornado indiferente, é preciso nunca perguntar se a verdade serve, se pode tornar-se fatal... Uma predileção da força pelas questões que hoje ninguém tem a coragem do que é proibido; a predestinação do labirinto. A experiência das sete solidões. Ouvidos novos para uma nova música. Olhos para o mais longínquo. Uma consciência nova para verdades mudas até o dia de hoje. E uma vontade de economia de grande estilo: o estourar da força, do entusiasmo... o respeito para consigo, o amor por si; liberdade absoluta consigo próprio[...]. (NIETZSCHE, 1888, p. 7-8). O fragmento transcrito acima, além de introduzir o tema, possibilita uma impressão inicial da filosofia nietzschiana e das imbrica- ções que possivelmente ela teve na realidade das décadas de 1930 e 1940. A pergunta que se impõe ao leitor sério das obras de Nietzsche é como os pensadores do século XX e início do século XXI compreendem a filosofia de Friedrich Nietzsche? Quais as imbricações do terror da Segunda Guerra Mundial na visão da atualidade sobre o pensamento nietzschiano? Talvez essas sejam duas perguntas imprescindíveis para analisar a filosofia de Nietzsche e suas possibilidades de interpretação. O que se observa por parte de pensadores é a não imparcialidade frente ao tema, afinal como Ansell-Pearson (1997) sugere, é impossível ficar indiferente à obra.

Perspectiva, Erechim. v.34, n.128, p. 53-63, dezembro/2010
www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/128_137.pdf