segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Comportamento de manada

Comportamento de manada é um termo usado por Nietzsche para descrever situações em que indivíduos em grupo reagem todos da mesma forma, embora não exista direção planejada.

O termo se refere originalmente ao comportamento animal; por analogia, também se aplica ao comportamento humano, em situações tais como a ocorrência de uma bolha especulativa. Neste caso, diz respeito ao comportamento de agentes econômicos, em um contexto de informação assimétrica ou incerteza, quando uma grande parcela dos agentes participantes de um dado mercado não tem informações suficientes para a tomada de decisão - acerca do mercado de ações, mercado cambial ou o mercado de crédito, por exemplo - e cada agente decide imitar a decisão de outros, supostamente mais bem informados, ou seguir a maioria.

Imagine que você está andando na rua e vê dois restaurantes vazios. Você não conhece nenhum deles e escolhe um para sentar. Em seguida chega um grupo que também não sabe nada dos restaurantes, eles vêem um restaurante sem ninguém e outro com você dentro. O que eles fazem? Escolhem o que você está. Na sequência vem um casal, olha os dois restaurantes e pensa: esse que tem gente deve ser melhor que o vazio, e acaba escolhendo o mesmo. E assim vai acontecendo o que chamamos de "efeito manada", até que no final temos um restaurante que é um sucesso e outro um fracasso, simplesmente porque tendemos a seguir outras pessoas.

Um triste exemplo desse comportamento foi verificado na tragédia da boate em Santa Maria, no sul do Brasil, onde centenas de jovens acabaram perdendo a vida por conta de um incêndio. Ao entrarem no local, os bombeiros notaram que muitos morreram no banheiro, provavelmente porque viram alguém correndo naquela direção e acabaram seguindo o instinto de manada: “se estão indo naquela direção é porque deve ser o melhor a fazer”. O instinto é muito forte.

O mesmo acontece na moda: alguns começam a usar determinadas roupas, outros gostam e copiam. Depois de um tempo, quase todo mundo se veste daquele jeito. No mercado financeiro: quando a bolsa está em alta e as ações caras, muitos querem investir, criando as famosas "bolhas", quando a bolsa está em baixa e as ações baratas muitos querem vender e poucos aplicar, criando os "crashes". Nas mídias sociais (facebook e instagram): são casos clássicos em que algumas pessoas começam a usar, contam para os amigos, e logo todo mundo está conectado. É difícil ficar fora ou ir contra essas tendências.

Na maior parte das vezes não sabemos o que queremos, e porque não sabemos, o ambiente tende a dirigir nossos desejos, influenciar nossos pensamentos e definir nossas escolhas. Mas nossa mente prega peças ainda mais curiosas. Cientistas descobriram um comportamento que chamam de “self herding” algo como um efeito de “auto-manada”, onde decisões que tomamos no passado servem como guias inconscientes para decisões futuras.

Uma experiência interessante foi feita muitas vezes: pesquisadores entregam um produto, vinho por exemplo, a um grupo grande de pessoas. Junto com o produto há uma descrição da vinícula, da uva, etc., mas não o preço. Todos analisam e em seguida recebem uma folha de papel com o nome do vinho. Os pesquisadores pedem que os participantes coloquem os dois últimos dígitos do RG com um cifrão ao lado do nome do vinho. Por exemplo, se os 2 últimos números forem 78, devem escrever $78. Assim as pessoas que tiverem dois números altos no final do RG registram um valor alto ao lado dos produtos e pessoas que tiverem números baixos escrevem valores baixos.

Os pesquisadores então perguntam se os participantes pagariam, hipotéticamente, tal valor pelo produto. E as respostas podem ser "sim" ou "não". Em seguida os pesquisadores pedem que façam uma oferta verdadeira pelo produto. No final descobrem que aqueles que tem o final do RG mais alto oferecem valores maiores que os que tem um final baixo. Curiosamente, o valor inicial fica gravado na mente e acaba influenciando a decisão posterior, uma espécie de ancoragem. Isso quer dizer que se formos expostos a números altos de qualquer natureza antes de ir às compras, tendemos a gastar mais.

Seguindo esse princípio, quando a Apple lançou o iPhone nos EUA estabeleceu o preço de US$600. Logo em seguida a empresa reduziu para US$400. O que a empresa fez? Ela gravou na mente das pessoas um valor e depois ofereceu o produto com 33% de desconto, uma oferta aparentemente mais atraente que se tivessem lançado o iPhone logo no início a US$400.

Esse tipo de situação está o tempo inteiro à nossa volta e tende a aumentar, porque empresas cada vez mais estudam o comportamento humano, usam artifícios para estimular o consumo e conduzir nossas decisões. Precisamos ficar atentos para saber se realmente queremos aquilo que desejamos e se estamos tomando as melhores decisões.

Kuskoski, M. S., Cadernos de Ética e Filosofia Política 19, 2/2011
www.revistas.usp.br/cefp/article/viewFile/55742/59157
Efeito manada por: Dalton Cortucci - www.youtube.com/embed/4gCRBpcx9wY